22 junho 2025

Truqueiro: Hereges de ontem e de hoje (por Gaudêncio Torquato)

Em 1376, um dominicano, Nicolau Eymerich, nascido em Gerona, reino da Catalunha e Aragão, fez um manuscrito, chamado de Manual dos Inquisidores, que é um relato da crueldade da igreja nos tempos da Inquisição. 50 anos depois de Gutemberg ter inventado a prensa de impressão com tipos móveis (1503), o manuscrito foi impresso em Barcelona, na Espanha. Trata-se de uma minuciosa coletânea a respeito do conceito de heresias, a lógica inquisitorial, os truques, a pressão dos inquisidores, os indícios para reconhecimento dos hereges, entre outras coisas. Para se ter uma ideia do escopo do livro, selecionamos alguns truques dos hereges para responderem aos inquisidores sem confessar. O primeiro consiste em responder de maneira ambígua: “pode ter acontecido, pode não ter acontecido; não me lembro, mas é possível que tenha sido assim”. O segundo truque consiste em responder acrescentando uma condição: “se minha conversa foi gravada, então, conversei”. O terceiro truque consiste em se fingir de surpreso: “puxa, não sabia disso”. O quarto truque consiste numa autojustificação: “como eu vivia viajando, não pude participar das reuniões”. O quinto truque consiste em fingir demência ou súbita debilidade física: “eu não respondi à pergunta que o senhor me fez na reunião passada porque passei mal, minha pressão arterial baixou”. O ex-presidente Jair Bolsonaro usou o mesmo método: respostas ambíguas; negação de fatos (edição da minuta do golpe, negação de ação contra a Constituição); desculpas por ter se excedido na acusação de que o ministro Alexandre e outros ministros do STF terem recebido dinheiro. Fez até chiste. Mesmo tentando ser o Bolsonaro “paz e amor”, será difícil que o STF o inocente por suas práticas contra o Estado Democrático de Direito.


(Blog do Noblat)

Compartilhar:

0 comments:

Postar um comentário

Copyright © Blog do Monteiro | Powered by Blogger
Design by SimpleWpThemes | Blogger Theme by NewBloggerThemes.com