Em 1376, um dominicano,
Nicolau Eymerich, nascido em Gerona, reino da Catalunha e Aragão, fez um
manuscrito, chamado de Manual dos Inquisidores, que é um relato da crueldade da
igreja nos tempos da Inquisição. 50 anos depois de Gutemberg ter inventado a prensa
de impressão com tipos móveis (1503), o manuscrito foi impresso em Barcelona,
na Espanha. Trata-se de uma minuciosa coletânea a respeito do conceito de
heresias, a lógica inquisitorial, os truques, a pressão dos inquisidores, os
indícios para reconhecimento dos hereges, entre outras coisas. Para se ter uma
ideia do escopo do livro, selecionamos alguns truques dos hereges para
responderem aos inquisidores sem confessar. O primeiro consiste em responder de
maneira ambígua: “pode ter acontecido, pode não ter acontecido; não me lembro,
mas é possível que tenha sido assim”. O segundo truque consiste em responder
acrescentando uma condição: “se minha conversa foi gravada, então, conversei”.
O terceiro truque consiste em se fingir de surpreso: “puxa, não sabia disso”. O
quarto truque consiste numa autojustificação: “como eu vivia viajando, não pude
participar das reuniões”. O quinto truque consiste em fingir demência ou súbita
debilidade física: “eu não respondi à pergunta que o senhor me fez na reunião
passada porque passei mal, minha pressão arterial baixou”. O ex-presidente Jair
Bolsonaro usou o mesmo método: respostas ambíguas; negação de fatos (edição da
minuta do golpe, negação de ação contra a Constituição); desculpas por ter se
excedido na acusação de que o ministro Alexandre e outros ministros do STF
terem recebido dinheiro. Fez até chiste. Mesmo tentando ser o Bolsonaro “paz e
amor”, será difícil que o STF o inocente por suas práticas contra o Estado
Democrático de Direito.
(Blog do Noblat)
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