09 julho 2022

Estadão: A ‘gratidão’ com dinheiro alheio

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) reconheceu ao Estadão, em espantosa entrevista publicada anteontem, o que todos já estão cansados de saber: que os controladores do orçamento secreto no Congresso usam essa cornucópia de dinheiro público para comprar apoio de colegas parlamentares. O que causa estupefação é a naturalidade com que Do Val admitiu a distribuição de verbas a partir de critérios arbitrários, à margem da lei, em atendimento a interesses estritamente particulares. “A minha parte seria de R$ 10, 15, 20 (milhões)”, disse o senador do Podemos, como se estivesse falando de tomates na feira. Falava, na verdade, dos R$ 50 milhões em emendas do orçamento secreto que recebeu como “gratidão” por seu apoio a Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na campanha à presidência do Senado, em fevereiro de 2021, conforme declarou o próprio Do Val, candidamente. Eis a que ponto se chegou uma legislatura que, em tese, vinha promover a renovação da política e uma nova moralidade no trato da coisa pública. Sem nenhum rubor, um senador admite que o presidente do Senado usou dinheiro público para “agradecer” o apoio recebido na campanha. Nem parece que é verba pública, oriunda do bolso do contribuinte. Nem parece que os recursos são escassos e as necessidades do País, imensas. Nem parece que a lei exige distribuição equânime das emendas entre parlamentares, porque, afinal, todos foram eleitos de forma legítima – os que são amigos do presidente do Senado e os que não são.


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