22 abril 2021

Análise: Bolsonaro prometeu 'pólvora' para Biden, mas só tem cinzas da Amazônia

O início da Cúpula de Líderes sobre o Clima, nesta quinta (22) será a primeira vez em que Jair Bolsonaro encontrará, mesmo que virtualmente, Joe Biden, presidente dos Estados Unidos. Ele poderia, portanto, aproveitar a ocasião e repetir o que disse, em novembro passado, quando ameaçou mostrar sua "pólvora" para o norte-americano. "Assistimos há pouco a um grande candidato à chefia de Estado dizer que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, não é, Ernesto [Araújo, demitido por fazer muita porcaria]? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão não funciona", disse o presidente em uma ameaça que causou vergonha alheia transnacional. Biden havia afirmado, em um debate eleitoral com Donald Trump, que o Brasil poderia sofrer consequências econômicas significativas caso não parasse de destruir a floresta. O que nem era uma previsão, mas uma constatação, uma vez fundos de investimento já estavam tirando dinheiro do país por conta do nível da destruição. O mais irônico é que essa retórica do presidente não sobrevive a uma análise do seu próprio histórico. Verás que um filho teu não foge à luta? Difícil acreditar que o verso do Hino Nacional se aplique a ele se até de debate eleitoral fugiu, mesmo com os médicos garantindo que tinha condições de participar no segundo turno de 2018. O cenário de fantasia narrado pelo presidente brasileiro está construído sobre uma montanha de cinzas de árvores e de fuligem que cai do céu das cidades trazida da Amazônia pelo vento. Mesmo por teleconferência, não tem como Bolsonaro não cheirar queimado.

(Trechos extraídos de Leonardo Sakamoto/UOL)


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