Quando o Brasil submeteu à ONU no início do ano seu informe
sobre o que tem feito para lidar com o desaparecimento forçado de pessoas, quem
o abriu logo descobriu: o relatório simplesmente omitia a existência da
ditadura militar no país, entre 1964 e 1985, e todos seus crimes. Ao submeter
suas explicações à entidade, o Brasil ainda pintou um país onde os mecanismos
de assistência às vítimas de abusos funcionavam e onde o estado de direito
impera. Alguns meses depois, a ONU mandaria de volta cinco páginas com
perguntas ao governo brasileiro, basicamente deixando claro que ali ninguém é
ingênuo para acreditar no que estava redigido pelo governo. Numa longa lista de
perguntas, a entidade cobrou do país explicações sobre crimes contra a
humanidade, sobre milícias, sobre o desmonte dos mecanismos de controle e
fiscalização da tortura e, claro, sobre a Ditadura. Sim, a ditadura existiu.
Não se trata de uma interpretação. Traduzindo a linguagem diplomática ao mundo
real, o que os documentos, cartas e queixas de relatores e entidades querem
dizer é algo muito simples: quem vocês acham que enganam?
(Trecho extraído de Jamil Chade, colunista do UOL)
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