Sem as mobilizações de rua no último ano, 2020 seria extremamente obscuro e estaríamos, agora, um passo atrás,
reféns da política educacional conduzida por um ex-deputado inexpressivo que se
tornou presidente. Como foi que chegamos até aqui? Primeiro uma constatação. O
Brasil se tornou um país imprevisível. E essa imprevisibilidade poderia ter
tido consequências ainda piores se as manifestações de 2019 não tivessem
imposto alguns freios a retrocessos ainda maiores nas políticas educacionais. É
preciso explicar os governos Temer e Bolsonaro por suas alianças. Temer
presidiu o país graças ao apoio de forças ultraliberais e ultrarreacionárias,
com predomínio político dos primeiros. É a mesma aliança que sustenta o atual
governo, porém - no caso atual - a dominância política cabe ao
ultrarreacionarismo. Paulo Guedes e seus aliados não compreendem que não são as
pessoas que devem servir à economia (é a economia que deve servir às pessoas).
Obedecem a uma lógica de pensamento econômico em que o Estado deve ser reduzido
a qualquer custo, perdendo sua função estratégica e social. Não falam de
educação, saúde, mais empregos, distribuição de renda ou de desenvolvimento
econômico, que deve ser pautado na reindustrialização. Apenas se ocupam da
dívida pública, das taxas de inflação e de outros indicadores de interesse do
mercado financeiro — esfera em que são comercializados os títulos públicos do
país. Em poucas palavras, os ultraliberais se limitam a debater os problemas,
sem apresentar soluções, em uma equação em que a maioria esmagadora das pessoas
não importa. Diante disso, se não ambicionam retomar a agenda do
desenvolvimento, como ensinou o saudoso Celso Furtado, estão ainda menos
dispostos a investir os recursos necessários para saldar a dívida do Estado
brasileiro com a educação de seu povo.
02 janeiro 2020
Reginaldo Monteiro

Administrador do Blog

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