02 janeiro 2020

ELEIÇÕES DECISIVAS: As disputas municipais devem redesenhar o panorama político


É comum encarar as eleições municipais como um teste para as forças políticas, verificando a adesão popular à situação ou oposição. Em 2016, por exemplo, os resultados catastróficos dos partidos de esquerda na corrida para as prefeituras, influenciados pelo processo de impeachment, já apontavam para a grande derrota sofrida para os cargos do executivo dois anos depois.

O presidente Jair Bolsonaro terá dificuldade em garantir prefeituras importantes para nomes alinhados politicamente com ele. Além da popularidade baixa para o primeiro ano de mandato (30%, uma das piores entre os presidentes desde a abertura democrática), Bolsonaro precisa correr contra o tempo para conseguir registrar o seu partido recém-fundado, o Aliança pelo Brasil. Não deve conseguir. Portanto, precisará contar com nomes abrigados em outras legendas. O ex-presidente Lula também deve ter dificuldades para voltar a fortalecer o PT. Para isso, tem insistido que seu partido lance candidatos próprios. Mas com isso afasta ainda mais as legendas de esquerda que estão cansadas de viver — e perecer — à sombra do seu partido. Os extremos não vão ter um caminho tranquilo. Candidatos abertamente alinhados a Bolsonaro ou Lula não terão vida fácil. O pleito vai definir até onde o radicalismo pode se manter no País.

Na cidade de São Paulo, os obstáculos do presidente estão bem representados. A eleição na capital paulista é crucial pela importância política da cidade, que representa o terceiro maior orçamento do País. O governador João Doria aposta na reeleição de Bruno Covas, que ganhou mais simpatia do eleitorado depois da revelação de sua doença. Doria gostaria de vê-lo na cabeça de chapa, tendo como vice a deputada federal Joice Hasselmann (PSL), sua amiga. Mas ela rechaça essa articulação, por enquanto. Se antes o PSL tinha chances reais de vitória com ela, o racha no partido e a consequente perda do apoio de Bolsonaro diminuíram as suas chances. Uma das mais recentes pesquisas, divulgada pela XP/Ipespe, aponta que o apresentador de TV José Luiz Datena, cortejado por vários partidos, está na frente com 22% das intenções de voto. Ele é o nome que mais agradaria Bolsonaro.

No campo da esquerda, há poucos nomes expressivos. O PT até considerou não lançar candidatos na cidade devido à baixa expectativa de vitória, já que o ex-prefeito Fernando Haddad não estaria disposto a disputar uma terceira eleição em seis anos. Há movimentações para a refiliação da ex-prefeita Marta Suplicy, que teria a simpatia de Lula, mas ela encontra resistências dentro da legenda por ter apoiado o impeachment de Dilma Rousseff.
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