28 abril 2019

FISGADO PELO ESTÔMAGO: O que explica o ataque do governo Bolsonaro aos cursos de filosofia e sociologia?


Em seu Facebook, Bolsonaro anunciou que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, estuda descentralizar investimento em faculdades de filosofia e sociologia, mas que alunos já matriculados não serão afetados. O objetivo, disse, é focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina.

Ainda segundo ele, a função do governo “é respeitar o dinheiro do pagador de impostos, ensinando para os jovens a leitura, escrita e a fazer conta e depois um ofício que gere renda para a pessoa e bem-estar para a família, que melhore a sociedade em sua volta”.

Em outras palavras: ele não reconhece a importância de disciplinas como sociologia e filosofia para pensar saídas ao país. Parece ótimo para quem quer se comunicar diretamente com a plateia - sem a mediação de professores, jornalistas e áreas do conhecimento que ajudem a lançar visões críticas sobre a fala oficial, inclusive históricas.

O ataque, segundo o filósofo e ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, revela que ele não sabe o que é o conhecimento. Segundo ele, Bolsonaro confunde o útil com o utilitário, que é o útil a curtíssimo prazo e que pode custar caro a longo.

“Para aumentar o PIB, as engenharias são fundamentais. Por isso mesmo, na CAPES como no MEC, eu as prestigiei sempre. Mas a Sociologia é decisiva para se entender como funciona a sociedade. E dá para viver em sociedade ignorando como ela funciona? É como propor guiar carro sem ter a menor noção de como ele se movimenta”, diz.

Ainda segundo Janine Ribeiro, a Sociologia dá particular ênfase à desigualdade social - e, quanto maior a desigualdade, mais pobre e atrasado o país. “Olhem a dimensão da miséria e dos males que ela acarreta (doenças, vida curta, baixa produtividade) e me digam se ela, a desigualdade, é mais frequente nos países ricos ou nos que estão no final da linha econômica e social”.

Sobre a Filosofia, o ex-ministro lembra que ela lida com o pensamento. “Fazem parte dela a teoria do conhecimento, a epistemologia. Ela dialoga, portanto, com as ciências. Ora, as ciências não são decisivas para o desenvolvimento econômico? Alguém imagina melhorar as engenharias e as medicinas sem pesquisa científica? e sem a discussão filosófica do que é o conhecimento?”, questionou.

(Por Matheus Pichonelli)
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