23 dezembro 2016

CRIANÇAS: 10 perguntas e respostas sobre a intolerância à lactose

O Departamento Científico (DC) de Nutrologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) elaborou um pequeno questionário para ajudar médicos e pacientes a entenderem as questões ligadas à intolerância à lactose, ou seja, a incapacidade do organismo de absorver adequadamente um dos carboidratos presente no leite (lactose). A forma correta de tratar o problema costuma causar muitas dúvidas entre os pais. Para ajudar a sociedade a ter uma melhor compreensão sobre o tema a dra. Jocemara Gurmini, membro do DC, preparou 10 perguntas e respostas mais frequentes sobre o tema. A seguir, o leitor encontrará orientações gerais sobre o transtorno, que podem ser muito úteis.
1. No caso dos bebês, alergia ao leite e intolerância à lactose são a mesma coisa?
A alergia ao leite de vaca e a intolerância à lactose são enfermidades diferentes. Na intolerância à lactose estamos falando sobre um carboidrato (lactose) que não provoca reações alérgicas, mas que por não ser absorvido de forma adequada é processado pelas bactérias intestinais formando gases e causando sintomas de desconforto abdominal, cólicas, distensão, flatulência, evacuações amolecidas, às vezes explosivas, e dermatite perineal. A alergia ao leite envolve a proteína, que, neste caso, ultrapassa a barreira mucosa do intestino delgado e chega à corrente sanguínea. Fenômenos alérgicos variados podem ocorrer, como sintomas digestivos (evacuações amolecidas, sangue nas fezes, vômitos, baixo ganho de peso) ou reações em outros aparelhos e sistemas (urticária, eczema ou, em casos mais graves, choque anafilático).
2. Em que idade costuma aparecer os sintomas da intolerância?
A intolerância à lactose pode ser primária, como a deficiência do prematuro; a congênita (rara); e a do tipo adulto ou ontogenética. A intolerância à lactose secundária ocorre devido a algumas doenças que levam a alterações na mucosa intestinal, alterando o tamanho das vilosidades, área onde a lactase (enzima que digere a lactose) é produzida. Tal fato pode ocorrer na doença celíaca, enterite infecciosa, desnutrição, entre outras. Outro dado importante refere-se ao fato de ser a intolerância à lactose dose-dependente, isto é, talvez pequenos volumes de leite ou derivados sejam bem tolerados. Algumas crianças toleram 1 a 2 copos de leite ao dia sem presença de sintomas.
3. Quais são os sintomas em adultos e em crianças? São os mesmos?
A quantidade de lactose necessária para desencadear os sintomas varia de indivíduo para indivíduo, dependendo da porção de lactose ingerida, do grau de deficiência de lactase e do tipo de alimento com o qual a lactose foi ingerida. Os principais sintomas são: dor abdominal, borborigmo, distensão abdominal, flatulência, diarreia aquosa explosiva, dermatite perianal, podem ocorrer desidratação e acidose metabólica em caso mais graves.
4. Como descobrir se a criança desenvolveu intolerância? Quando devemos levá-la ao médico?
Procure avaliação médica nos casos de sintomas acima citados antes de iniciar uma dieta sem leite e derivados. Lembre-se que indivíduos com uma dieta pobre em leite e derivados e sem a substituição ou complementação adequada estão mais predispostos a desenvolverem uma mineralização óssea inadequada.
5. Caso a criança seja alérgica ou tenha intolerância, como deve ser a dieta? O que pode substituir o leite? Quais cuidados devem ser tomados?
Na alergia ao leite de vaca é necessária dieta sem leite e derivados com atenção especial aos rótulos, pois o leite pode vir com outro nome, como: leite em pó, leite desnatado, leite fluído, composto lácteo, caseína, caseinato, lactoalbumina, lactoglobulina, lactulose, lactose, proteínas do soro, soro de leite, whey protein. Atenção também para medicamentos e cosméticos. Na alergia ao leite não consuma alimentos que contenham queijo, iogurte, manteiga, creme de leite, leite integral, leite desnatado, leite em pó, leite condensado, produtos preparados com leite e com derivados.
6. É genético?
A primeira descrição de intolerância à lactose foi feita por Hipócrates 400 a.C. e a redução da atividade da lactase ocorre com maior frequência em alguns grupos étnicos (por exemplo: esquimós, judeus, orientais, indianos, negros) que perdem progressivamente a atividade enzimática. Sua prevalência pode variar de 10% a 90%, dependendo da etnia considerada. Postula-se que esta variação na prevalência seja decorrente da seleção natural ocorrida em povos criadores de gado leiteiro domesticado, consumidores de leite e seus derivados na dieta, com a aquisição de um traço genético dominante que perpetua a atividade da lactase após o desmame, selecionando indivíduos geneticamente habilitados a digerir a lactose. Nestes casos, ocorre a persistência de um “gene regulador”, recentemente sequenciado e localizado no cromossomo 2 (2q21), que não permite a supressão da síntese de lactase no tempo programado. Apesar desta descoberta, testes genéticos não tem função diagnóstica de intolerância a lactose e não influenciam no tratamento.
7. Existe algum meio de prevenir a alergia ou a intolerância à lactose?
Na intolerância à lactose não existem orientações de prevenção. Já na alergia alimentar, faltam evidências de que a sensibilização inicie no período intrauterino. Até o momento, há pouca evidência de que a dieta materna durante a gestação e a lactação evitem a alergia. É importante estimular o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade, e complementado até dois anos ou mais; e não retardar a introdução de alimentos sólidos e nem dos ditos “mais” alergênicos (peixe, amendoim, castanhas, ovo, etc.) visando prevenir alergias. Não há qualquer justificativa para se retardar a introdução dos alimentos sólidos após o sexto mês de vida, sob o risco de aumento da sensibilização a antígenos alimentares e possíveis manifestações de alergias, principalmente a dermatite atópica.
8. Há níveis de intolerância?
A quantidade de lactose necessária para desencadear os sintomas varia de indivíduo para indivíduo, dependendo da porção de lactose ingerida, do grau de deficiência de lactase e do tipo de alimento com o qual a lactose foi ingerida.
9. Há tratamento? Ou é para a vida toda?
A intolerância a lactose secundária e a do prematuro são transitórias, o indivíduo volta a tolerar após um período de dieta sem o carboidrato. As demais são para toda a vida.
10. Há algum número de quantas pessoas no Brasil possuem intolerância a lactose?Não há dados quanto ao número exato de indivíduos com intolerância a lactose.
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