O
processo de impeachment em curso hoje no Brasil não é um golpe de Estado, mas
tampouco representa a melhor solução para o país, que seria uma eleição geral
capaz de renovar também o Congresso. "A
próxima vez que os brasileiros forem às ruas, é isso (novas eleições gerais)
que deveriam exigir", é a conclusão da revista britânica The Economist,
em artigo publicado na edição que chega às bancas nesta sexta-feira. No texto
intitulado "Quando um 'golpe' não é um golpe", a publicação diz que
classificar o processo contra a presidente Dilma Rousseff como golpe é um
"argumento emocional" que reflete uma "visão seletiva da democracia".
"Isso é a perversão, e não a defesa da democracia", afirma a
centenária revista. Pelo direito constitucional brasileiro, impeachment é o
processo instaurado com base em denúncia de crime de responsabilidade contra
alta autoridade do poder Executivo (como presidente, governadores e prefeitos).
A Economist cita o argumento básico de Dilma e seus
defensores: não há crime de responsabilidade, e portanto o processo é ilegal, e
por trás da iniciativa estão as mesmas forças que derrubaram o governo em 1964:
mídia, empresariado, procuradores e juízes. A revista diz que não há evidências
de que Dilma seja "pessoalmente corrupta" e lembra que
"diferentemente de seu principal acusador, o presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha, nem ela nem sua família possuem contas na Suíça ou empresas
panamenhas em paraísos fiscais". Apesar disso, argumenta a publicação, a
denúncia de um suposto golpe reflete uma prática que se tornou "parte do
kit de propaganda da esquerda", comum a governos como os de Nicolás Maduro
(Venezuela) e Evo Morales (Bolívia). Para a Economist,
"um golpe envolve a tomada do poder por meio do uso inconstitucional de
ameaça ou força por um pequeno grupo. Esse não é o caso no Brasil. Quaisquer
que sejam seus ocasionais desvios, a investigação de corrupção (Lava Jato) é
tocada por procuradores e juízes independentes."
(BBC Brasil)