Médico mais popular do Brasil, conhecido por
quadros na televisão, vídeos em redes sociais e best-sellers como Estação
Carandiru, Drauzio Varella é categórico quando o assunto é a interrupção de
gestações. "O aborto já é livre no Brasil. É só ter dinheiro para fazer em
condições até razoáveis. Todo o resto é falsidade. Todo o resto é
hipocrisia." Em entrevista por telefone, Varella critica qualquer enfoque religioso
sobre o tema - que voltou ao noticiário junto à epidemia de zika vírus e aos
recordes em notificações de microcefalia - e afirma que o cerne da discussão
não está na moralidade, mas na desigualdade brasileira. "Ninguém pode se
considerar dono da palavra de Deus, intermediário entre deuses e seres humanos,
para dizer o que todos devem fazer", diz. "Muitos religiosos pregam
que o aborto não é certo. Se não está de acordo, não faça, mas não imponha sua
vontade aos outros." Como a BBC Brasil revelou na última quinta-feira
(28), uma ação que pede a descriminalização do aborto em casos comprovados
desta má-formação deve chegar ao Supremo Tribunal Federal, nos próximos dois
meses. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), uma brasileira morre a
cada dois dias por conta de procedimentos mal feitos e um milhão de abortos
clandestinos seriam feitos no país todos os anos. "A mulher rica faz
normalmente e nunca acontece nada. Já viu alguma ser presa por isso? Agora, a
mulher pobre, a mulher da favela, essa engrossa estatísticas. Essa morre."
(IG)