Depois de ajudar a eleger Eduardo Cunha (PMDB-RJ) presidente da
Câmara dos Deputados e selar com ele uma aliança espúria, que tinha como
objetivo um golpe contra a democracia brasileira por meio de um artificial
processo de impeachment, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) tem hoje um mico nas
mãos. Trata-se do próprio Eduardo Cunha. Para explicar a situação em que
se encontra, em entrevista publicada nesta segunda-feira, Aécio recorreu aos
versos de Carlos Drummond de Andrade, no poema "No meio do caminho".
"Acho que a situação dele chegou a um ponto insustentável. As denúncias se
avolumam, as respostas são muito pouco consistentes e o processo do Eduardo
Cunha, de alguma forma, se coloca como diria o poeta da minha terra: 'No meio
do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho'. Tem o Eduardo
Cunha no meio do caminho e essa questão terá que ser resolvida", disse o
senador Aécio, em sua entrevista. A questão é que essa pedra foi
colocada pelo próprio senador, que não se deu conta de uma imensa contradição –
mesmo com boa parte da mídia conservadora a favor, seria impossível levar
adiante uma cruzada moralista, que tivesse como objetivo impedir uma presidente
reconhecidamente honesta, tendo como cavaleiro principal Eduardo Cunha. A
entrevista do senador é praticamente uma admissão de que o impeachment
Cunha-Aécio ruiu e que, agora, a aposta dos tucanos, que não desistiram de
golpear a democracia, será cassar tanto a presidente Dilma como o vice Michel
Temer por meio de uma ação no Tribunal Superior Eleitoral.
(Brasil247)