O
tempo não me assusta. A trilha, no entanto, é por demais estreita. Parece um
filete de água na paisagem do deserto. Por vezes, a abundância de estímulos e o
prazer industrialmente fabricado tentam nos enganar.
Nestas horas, pensamos:
“ah, meu caminho não tem margens, posso seguir por qualquer direção”. Não nego
certa verdade nisso, a julgar o anseio pela eternidade que carregamos dentro de
nós. Talvez seja isso a centelha de fogo que o pai e o filho carregavam no
mundo devastado do romance “A Estrada”, de Cormac McCarthy.
Mesmo
assim, parece tão irreal! A desordem que nos confunde, a injustiça que nos
subjuga, a guerra interior que nos enfraquece, o mal que nos assusta, o coração
humano que nos engana. A vida não é um parque de diversões, mesmo que haja
fonte de alegria em nosso coração. A vida não é um paraíso, mesmo que possamos
aprender a dádiva do contentamento.
O
tempo não me assusta. O que assusta, por vezes, é o caminho e suas limitações. Limitações
que se tornam evidentes quando completamos ciclos pessoais. Eu chego à idade
madura e então me pergunto qual a validade dos aniversários. Sempre me senti
estranho nestes dias, meio com vergonha, meio desconfiado dos “parabéns”.
Hoje
me afasto um pouco para descobrir o significado de tudo isso. Encontro
respostas bem mais simples do que minhas elucubrações. Aniversários existem,
não para enchermos nossos quartos de presentes, mas para sermos
convencidos do que realmente importa. A vida bate à porta e pede para entrar.
Ela entra, senta-se e conta a verdadeira história. Nós — ouvintes mais atentos
que dias de outrora — vivemos para que possamos aprender a viver
ainda mais. Mesmo com a estreiteza, o não é definitivo. Se prestarmos bem
atenção, ele não é o fim. Há mais vida na outra esquina.
(Por Lissânder Dias)