13 dezembro 2015

CRÔNICA: O tempo não me assusta

O tempo não me assusta. A trilha, no entanto, é por demais estreita. Parece um filete de água na paisagem do deserto. Por vezes, a abundância de estímulos e o prazer industrialmente fabricado tentam nos enganar. 

Nestas horas, pensamos: “ah, meu caminho não tem margens, posso seguir por qualquer direção”. Não nego certa verdade nisso, a julgar o anseio pela eternidade que carregamos dentro de nós. Talvez seja isso a centelha de fogo que o pai e o filho carregavam no mundo devastado do romance “A Estrada”, de Cormac McCarthy. 

Mesmo assim, parece tão irreal! A desordem que nos confunde, a injustiça que nos subjuga, a guerra interior que nos enfraquece, o mal que nos assusta, o coração humano que nos engana. A vida não é um parque de diversões, mesmo que haja fonte de alegria em nosso coração. A vida não é um paraíso, mesmo que possamos aprender a dádiva do contentamento. 

O tempo não me assusta. O que assusta, por vezes, é o caminho e suas limitações. Limitações que se tornam evidentes quando completamos ciclos pessoais. Eu chego à idade madura e então me pergunto qual a validade dos aniversários. Sempre me senti estranho nestes dias, meio com vergonha, meio desconfiado dos “parabéns”. 

Hoje me afasto um pouco para descobrir o significado de tudo isso. Encontro respostas bem mais simples do que minhas elucubrações. Aniversários existem, não para enchermos nossos quartos de presentes, mas para sermos convencidos do que realmente importa. A vida bate à porta e pede para entrar. Ela entra, senta-se e conta a verdadeira história. Nós — ouvintes mais atentos que dias de outrora — vivemos para que possamos aprender a viver ainda mais. Mesmo com a estreiteza, o não é definitivo. Se prestarmos bem atenção, ele não é o fim. Há mais vida na outra esquina.
(Por Lissânder Dias)
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