O magistrado falou durante um almoço com empresários na capital
paulista. “Às vezes, há uma certa dificuldade de se obter uma resposta muito
clara de porque se pagava propina. As explicações recorrentes de alguns desses
acusados confessos era de que, simplesmente, era a regra do jogo. Houve,
simplesmente, uma naturalização do pagamento de propina. O que é extremamente
assustador”, disse, em referência aos depoimentos tomados em diversos casos de
corrupção em que atuou. Na opinião de Moro, a corrupção no Brasil atingiu um
nível sistêmico. “Em quatro casos julgados, envolvendo diferentes empresas e
diferentes agentes públicos foi constatada uma prática que eu trabalhei como
corrupção sistêmica, no sentido de que a acertação de um contrato público
envolvia o pagamento, quase naturalizado, de um percentual de propina”,
destacou, em referência a casos envolvendo corrupção na Petrobras e na Caixa
Econômica Federal. Para mudar essa situação, Moro defendeu uma nova postura,
tanto do Poder Público, como dos agentes privados que negociam com o Estado.
“No âmbito das instituições públicas, é extremamente necessário, não só uma
postura firme por parte das autoridades públicas contra a corrupção, mas também
a postura dos juízes e mais reformas no nosso sistema de justiça criminal.
Nosso sistema de justiça criminal, como eu disse, tem muito do italiano, e é extremamente
moroso”, ressaltou o magistrado, que tem teses acadêmicas sobre a Operação Mãos
Limpas, que combateu a máfia na Itália durante a década de 1990. Em relação aos
empresários, o juiz disse que a iniciativa privada deve se recusar a pagar por
benefícios, e denunciar quando houver extorsão. “A iniciativa privada tem um
papel importante em dizer não ao pagamento de propina em casos de corrupção. É
certo qu, muitas vezes, o empresário pode ser extorquido. Mas essas questões
têm que ser levadas às autoridades, quando acontecerem”.
(Último Segundo)