A
força-tarefa da Lava Jato afirmou que, independentemente de seu papel como
líder político no passado, o ex-ministro José Dirceu deve ser condenado por
haver "provas e evidências" de que ele praticou "crimes
graves" no esquema de corrupção bilionário na Petrobras. O procurador
Deltan Dallagnol disse esperar que Dirceu receba uma pena superior a 30 anos de
prisão. "Não estamos julgando o José Dirceu, mas atos e fatos
concretos", disse Dallagnol. A denúncia feita nesta sexta-feira, destacou
Dallagnol, centra em integrantes do que a Polícia Federal classificou como
"núcleo político" da operação, composto por políticos que desviavam
recursos para partidos e para uso próprio, além de seus familiares e
representantes. Nesse núcleo, foram denunciados José Dirceu, o ex-tesoureiro do
PT João Vaccari Neto e outras sete pessoas - nove dos 17 denunciados hoje.
Entre as acusações estão organização criminosa, lavagem de dinheiro e
corrupção. Segundo a força-tarefa, Dirceu e Vaccari não atuavam de forma
conjunta, mas em paralelo. O dinheiro que passava por Vaccari era destinado ao
Partido dos Trabalhadores enquanto, no caso do Dirceu, o desvio seria feito em
benefício próprio. A PF identificou repasses de R$ 14 milhões a Vaccari e de R$
11,8 milhões a Dirceu - valores contemplados pela denúncia, que se refere a
contratos da Engevix. Renato Duque e Pedro Barusco, respectivamente ex-diretor
de Serviços e ex-gerente da Petrobras, considerados do núcleo administrativo,
também foram denunciados. O procurador Roberson Pozzobon destacou que Duque
permaneceu no cargo com apoio de José Dirceu. Segundo a força-tarefa da Lava
Jato, há evidências de que o delator Milton Pascowitch fez operar uma espécie
de "banco criminoso", com uma série de rebuscadas e complexas
operações de lavagem de dinheiro. No caso de Dirceu, houve contratos com sua
consultoria, repasses em dinheiro, além de repasses ocultos através do
pagamento de imóveis, reformas a imóveis e até do uso de uma aeronave, usada
por Dirceu ao longo de dois anos. O sistema instalado permitiu até que Dirceu
virasse sócio oculto de um terço da aeronave através de Pascowitch, aponta a
denúncia. Pozzobon destacou que foram identificados contratos com a consultoria
de Dirceu, a JD, enquanto o ex-ministro era processado e após ser condenado no
processo do mensalão. O delegado Igor Romário de Paula, integrante da
força-tarefa, que também participa da coletiva, destacou que a postura do
ex-ministro demonstra "total desrespeito pelas instituições" e
elogiou a rapidez do trabalho dos investigadores no caso da Lava Jato, da
investigação em si até a denúncia. Romário de Paula, ao responder uma pergunta
dos jornalistas, esclareceu que não há intenção de investigar toda a vida Dirceu,
mas que a equipe trabalha sobre os fatos que vêm à tona ao longo da
investigação.
(Terra)