A falta de confiança no
Poder Judiciário no Brasil está relacionada à morosidade da Justiça. Esta é a
opinião do presidente da Associação dos Magistrados do Brasil, João Ricardo
Costa, sobre o resultado de levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas. “Se
usamos outras pesquisas, que dividem o Judiciário, veremos os tribunais
especiais e a Justiça Eleitoral sendo bem avaliados. No geral, a avaliação é
ruim porque o serviço é muito moroso”, avalia.
Costa ressalta que
as pessoas que buscam serviços judiciais costumam enfrentar essa demora – fato
determinante para a consolidação de uma opinião negativa. “A corrupção, que
ainda é um tema emergente, não é frequente”, pondera o magistrado. “Há até
relatórios do Fundo Monetário Internacional apontando para isso.”
Ele destaca ainda
que a natureza do serviço deixa, por regra, metade dos atendidos desapontada.
“Porque um ganha e outro perde. Mas isso é a natureza de um órgão de solução de
litígios”, argumenta.
“Os números mostram
que é preciso mudar, com urgência, a forma como a Justiça é feita no Brasil. É
preciso que as pessoas entendam o Poder Judiciário como um serviço e, assim,
passem a cobrar eficiência”, disse o professor da Fundação Getúlio Vargas
Renato Sérgio de Lima, vice-presidente do Fórum Nacional de Segurança.
Burocracia e
demora. A população endossa o descontentamento. “(Na Justiça) É sempre tudo
muito complicado e demorado. Apelamos para uma coisa que vai demorar anos. Por
isso, às vezes, desistimos de procurar a Justiça para evitar dor de cabeça”,
afirma o designer Leonardo Costa, de 24 anos.
Ele acredita “ser
fácil desobedecer as leis porque não há fiscalização das polícias”. O jovem é
ciclista e sente no trânsito essa realidade. “No caso da bicicleta, há muito
desrespeito”, exemplifica. “Eu ando pela ciclovia e os carros passam no sinal
vermelho, na frente da polícia. Fazem isso porque não há nenhuma punição.”
A estudante de
Direito Laura de Oliveira Zanardi afirma que confia na Justiça apesar de
problemas do Judiciário que “deturpam a imagem” da lei. “A burocracia está em
qualquer lugar, não é só o problema do Judiciário, mas da construção do
Estado”, acredita. Para ela, a burocracia propicia que as pessoas burlem a lei.
“Quem fura a fila tem o mesmo pensamento de quem rouba dinheiro”, comenta.
Para o atendente
Leonardo Santos Capenti, de 22 anos, a Justiça é menos rigorosa para os mais
ricos. “Os pobres têm mais problemas porque costumam ficar mais tempo presos.
Às vezes eles cometem o mesmo crime que alguém mais rico que ele, só que a
pena, em vez de ser a mesma, é mais rigorosa”, afirma. “Quem tem poder
aquisitivo e mais conhecimento paga fiança, responde processo em liberdade e
ganha recursos.” Para ele, o Judiciário deveria tratar “todos de forma igual”.