"Tenho certeza que não escapo dessa, já preparei os meus
filhos". A frase sai arrastada, entre os dentes de Raimundo Gomes da
Silva, que aos 82 anos integra a chamada 'lista da morte', formada por
ex-servidores da extinta Superintendência de Campanhas de Saúde Pública
(Sucam), que tiveram contato direto com o pesticida Diclorodifeniltricloroetano
(DDT), usado para conter o mosquito da malária na região amazônica nas décadas
de 70 a 90, no Acre. O aposentado desenvolveu problemas no coração, rins e
tumores. No Acre, o extinto órgão do governo federal possuía cerca de 540
funcionários, dos quais 240 morreram. Até este mês, 15 estão na lista da morte
somente em Rio Branco. Sem ter a intoxicação reconhecida pelo poder
público, o levantamento é feito pela Associação DDT e Luta Pela Vida, que
estima que o número de ex-agentes 'condenados à morte' deve ser ainda maior. O DDT começou a ser usado no Brasil
logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Naquela época, homens, sobretudo da
região amazônica, conhecidos por 'guardas mata-mosquitos' ou apenas 'soldados
da malária', foram recrutados para combater uma verdadeira guerra contra o
mosquito vetor da malária e outras endemias. Sem conhecimento e acreditando que
o veneno era inofensivo ao ser humano, os agentes se embrenhavam na mata e
tinham contato direto com o produto, usando apenas um chapéu de alumínio e uma
farda.
(globo.com)