Novas denúncias envolvendo a máfia das próteses. Além das operações
desnecessárias, médicos chegam a usar material vencido, só para ganhar
comissão. E, o que é mais chocante: desta vez, as cirurgias são no coração dos
pacientes. “Eles correm risco de vida. Eles podem morrer. Porque a partir do
momento que você coloca um produto que tem uma droga que está vencida, ele pode
ir a óbito”, diz uma testemunha. “São hospitais que colocam dois, três stents
num paciente sem necessidade. Fazem as análises, veem que tem apenas uma
obstrução e colocam dois ou três apenas pra ter uma comissão maior”, conta
outra testemunha. Essas são testemunhas de um esquema que coloca em risco a
vida de pacientes com problemas cardíacos em troca de dinheiro. Os stents são
tubos metálicos usados para expandir os vasos sanguíneos entupidos do coração e
normalizar a circulação. Em muitos casos, são a única saída para evitar um
infarto. E uma fonte de lucro para médicos inescrupulosos. Veja o que diz um
ex-funcionário de uma distribuidora desse tipo de implante do Rio Grande do
Sul: “Cada stent, o médico chegava a ganhar até R$ 3 mil, R$ 3,5 mil, R$ 4 mil.
Então, tu imagina ele colocando dez stents num mês, ele ganhava R$ 35 mil, R$
40 mil. Somando 12 meses, ele ganhava R$ 480 mil por ano. Tudo em dinheiro
vivo, fora de taxas, não declarado”. O cardiologista Fernando Sant’Anna decidiu
investigar a real necessidade do uso de stents. “Nós estudamos 250 pacientes e
foram 451 obstruções, 451 entupimentos”. Neste universo pesquisado, ele chegou
à conclusão de que 22% dos implantes de stent são desnecessários.
(globo.com)