Ao lado de Fagner no palco, Zé Ramalho traz em
seu violão a inscrição “Nação nordestina”, nome de seu disco lançado em 2000,
cuja capa, que emula a de “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, traz vários
personagens do Nordeste, entre eles Fagner. Mais que a referência ao álbum, há
ali uma sinalização de que essa região do país está representada naquele
momento, na música e nas décadas de carreira de cada um, celebradas no show, lançado
agora no CD e DVD “Ao vivo” (Sony) — gravado em julho, no Teatro Net Rio. Uma
afirmação do orgulho e da cultura de suas origens que fazia sentido quando eles
iniciaram sua trajetória, e talvez, como eles notam, faça ainda mais sentido
hoje — num contexto no qual alguns eleitores manifestaram nas redes sociais um
discurso de ódio e preconceito contra os nordestinos, dando a eles a
“responsabilidade” pela reeleição de Dilma Rousseff. Temos um papel com relação
ao Nordeste, afirmar e fortalecer uma autoestima nordestina, num momento
politicamente importante, após as eleições mais pobres de ideias que tivemos —
afirma Fagner. “Temos uma relação forte com o Nordeste, nossa obra representa o
Nordeste. Temos esse papel social”. Zé Ramalho concorda, lembrando que a
geração deles apresentou um novo Nordeste para o restante do Brasil quando
começaram suas carreiras, na década de 1960.
(O Globo)