"A
tontura reapareceu depois, e os exames mostraram o câncer", conta o filho
Osmar Marques da Rosa, de 55 anos, que também é agricultor. Seu Atílio foi
diagnosticado há um ano com um tumor na cabeça, localizado entre o cérebro e os
olhos. Por causa da doença, já não trabalha em sua pequena propriedade, na qual
produzia milho e mandioca. Para ele, o câncer tem origem: o contato com
agrotóxicos, produtos químicos usados para matar insetos ou plantas dos quais o
Brasil é líder mundial em consumo desde 2009. "Meu pai acusa muito esse
negócio de veneno. Ele nunca usou, mas as fazendas vizinhas sempre pulverizavam
a soja com avião e tudo", diz Osmar. O noroeste gaúcho, onde seu Atílio
mora, é campeão nacional no uso de agrotóxicos, segundo um mapa do Laboratório
de Geografia Agrária da USP, elaborado a partir de dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). Para especialistas que lidam com o
problema localmente, não há dúvidas sobre a relação entre o veneno e a doença. "Diversos
estudos apontam a relação do uso de agrotóxicos com o câncer", diz o
oncologista Fábio Franke, coordenador do Centro de Alta Complexidade em
Oncologia (Cacon) do Hospital de Caridade de Ijuí, que atende 120 municípios da
região. Um estudo realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) comparou o número de mortes por câncer da microrregião de Ijuí com as
registradas no Estado e no país entre 1979 e 2003 e constatou que a taxa de
mortalidade local supera tanto a gaúcha, que já é alta, como a nacional. De
acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o Rio Grande do Sul é o
Estado com a maior taxa de mortalidade pela doença. Em 2013, foram 186,11
homens e 140,54 mulheres mortos para cada grupo de 100 mil habitantes de cada
sexo.
(BBC Brasil)