Por trás da produção do cacau há um rastro de pobreza e
desigualdade. Trabalho análogo à escravidão e exploração de mão-de-obra de
crianças e adolescentes tornaram-se comuns na colheita do cacau, matéria-prima
do chocolate, segundo o Ministério Público do Trabalho. Durante 18 dias, os
repórteres do Câmera Record percorreram os principais polos
produtores, às margens da rodovia Transamazônica, no Pará, e na região
conhecida como Costa do Cacau, no sul da Bahia. Passa bem longe desses locais a
riqueza do mercado que movimenta 14 bilhões de reais por ano no Brasil (e 110
bilhões de dólares, cerca de 458 bilhões de reais no mundo) e levou o país a se
tornar o sétimo maior produtor de cacau. A sujeira do trabalho na roça não
encobre os machucados que os irmãos Daiane e Gabriel*, ambos de 14 anos, levam pelo
corpo. Eles vivem no município de Medicilândia, conhecido como a capital
nacional do cacau, localizado a 1h30 de carro de Altamira, no Pará. "O
facão escapuliu e pegou na minha perna. Eu não sabia se chorava de medo ou de
dor”, conta Daiane. Com uso de facões e podões – uma espécie de foice pequena
com cabo longo – todos capinam, derrubam o cacau do pé, juntam, quebram,
descaroçam e colocam as amêndoas para secar. Eles trabalham e moram no pequeno
lote de terra da avó agricultora Isanilde Silva, mãe de treze filhos. A casa
não tem luz, nem água encanada. A família bebe e toma banho em um poço a 100
metros de distância. Também não há camas para todos. A maioria dorme em
redes. Contrasta com a casa pobre de tijolos aparentes a fotografia da família
pendurada na parede. No retrato, eles usam roupas e vestidos elegantes em um
fundo arborizado, que até lembra o Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Mas
trata-se de uma montagem (doada por um estúdio). É como se, ao olhar para
aquilo, eles se transportassem para uma realidade menos sofrida.
Reginaldo Monteiro

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