Às duas horas da madrugada, o radialista
Paulo Leitão começa o bate-papo com os ouvintes em Porto Alegre. “Erga essa
cabeça meu amigo, meu irmão. Manda a tristeza embora que a partir de agora a
gente vai nesse dia, a gente vai com você até seis da manhã batendo papo
conversando”, diz Paulo no microfone. Em São Paulo, João também está
acordado. Ele trabalha como porteiro. No
Rio de Janeiro, trocar o dia pela noite faz parte do ofício dos taxistas Sérgio
e Francisco na luta pelo sustento. Mas
o que pode haver em comum entre estes brasileiros de profissões tão diferentes,
além de trabalhar de madrugada ano após ano? Todos sentiram o peso do trabalho
noturno, eles engordaram. Mas o que tem a ver o trabalho noturno com o
aumento de peso? Dormir pouco e mal pode representar alguns quilos a mais na
balança? E, além de engordar, as noites mal dormidas podem abrir caminho para
algumas doenças? Os especialistas afirmam que sim. A relação entre a falta de
sono, a obesidade e doenças como diabetes e hipertensão está cada vez mais
comprovada pela ciência. Uma das pesquisas mais completas sobre os efeitos da
privação de sono sobre a saúde foi feita na Universidade Federal de São Paulo,
a Unifesp. Durante dois anos, pesquisadores acompanharam um grupo de sete mil
trabalhadores noturnos das mais diferentes atividades, em quatro estados: São
Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Os resultados são
impressionantes. No primeiro ano de trabalho noturno 93% das pessoas
pesquisadas engordaram em média 6,2 quilos. E continuaram engordando. A cada
ano, houve um aumento de peso entre 800 gramas a 1,2 quilo. A pesquisa revelou
que dormir pouco ou dormir mal enfraquece o sistema imunológico e altera a
produção de hormônios como a insulina. Além disso, os trabalhadores noturnos
acabam se alimentando de forma errada, passam a comer alimentos mais calóricos
e a fazer as refeições fora de hora.
(G1)