02 junho 2014

Crack cria legião de 'noias' invisíveis no interior paulista

"A raspa da canela do capeta." Assim era conhecido o crack quando surgiu em São Paulo, na periferia da zona leste. Era fim dos anos 1980 e o Brasil vivia os desafios da redemocratização, após 20 anos de ditadura militar. Subproduto sujo e barato da cocaína, a droga que deve seu nome aos estalos que emite ao ser queimada logo se tornou o prazer e a praga dos excluídos, de farrapos humanos que pouco importavam à sociedade e, consequentemente, ao poder público. Passados mais de 20 anos, esse cenário mudou: hoje, o crack está presente em todos os cantos do Estado. Dos grandes centros urbanos, migrou para cidades pequenas e afastadas, antigos rincões do sossego. Também escalou a pirâmide social e chegou às mansões. Com a mesma rapidez com que corrompe e danifica o organismo, virou a principal droga ilícita tanto em municípios pobres e pouco desenvolvidos quanto em regiões de economia aquecida, estâncias turísticas, balneários, paraísos litorâneos e na roça. Em mapeamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), atualizado em tempo real pelas prefeituras, 194 cidades paulistas – das 556 participantes – declararam ter alto problema decorrente de consumo de crack. Entre elas estão Águas de Lindoia e Serra Negra (estâncias hidrominerais do Circuito das Águas), Campos do Jordão (a "Suíça brasileira"), Ilhabela (reduto de Mata Atlântica no litoral norte), Cananeia (patrimônio da humanidade), além de cidades-referência, como Ibitinga (a capital do bordado), Monte Alegre do Sul (capital do morango), São Roque (terra do vinho) e Louveira (2.º maior PIB per capita do País).
(Estadão)
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