"A raspa da canela do
capeta." Assim era conhecido o crack quando surgiu em São Paulo, na
periferia da zona leste. Era fim dos anos 1980 e o Brasil vivia os desafios da
redemocratização, após 20 anos de ditadura militar. Subproduto sujo e barato da
cocaína, a droga que deve seu nome aos estalos que emite ao ser queimada logo
se tornou o prazer e a praga dos excluídos, de farrapos humanos que pouco
importavam à sociedade e, consequentemente, ao poder público. Passados mais de 20 anos, esse cenário mudou: hoje, o crack está presente
em todos os cantos do Estado. Dos grandes centros urbanos, migrou para cidades
pequenas e afastadas, antigos rincões do sossego. Também escalou a pirâmide
social e chegou às mansões. Com a mesma rapidez com que corrompe e danifica o
organismo, virou a principal droga ilícita tanto em municípios pobres e pouco
desenvolvidos quanto em regiões de economia aquecida, estâncias turísticas,
balneários, paraísos litorâneos e na roça. Em mapeamento da
Confederação Nacional dos Municípios (CNM), atualizado em tempo real pelas
prefeituras, 194 cidades paulistas – das 556 participantes – declararam ter
alto problema decorrente de consumo de crack. Entre elas estão Águas de Lindoia
e Serra Negra (estâncias hidrominerais do Circuito das Águas), Campos do Jordão
(a "Suíça brasileira"), Ilhabela (reduto de Mata Atlântica no litoral
norte), Cananeia (patrimônio da humanidade), além de cidades-referência, como
Ibitinga (a capital do bordado), Monte Alegre do Sul (capital do morango), São
Roque (terra do vinho) e Louveira (2.º maior PIB per capita do País).
(Estadão)
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