Catorze mil índios guaranis-kaiowás e terenas vivem nas aldeias Jaguapiru e Bororó, em Dourados (229 km de Campo Grande). Ali, numa área de 36 mil hectares, eles compartilham histórias de vida muito diferentes entre si que são, ao mesmo tempo, bem próximas dos casos de sucesso e tristeza vividos pelos homens brancos que moram do lado de lá das aldeias.
Salvador Freitas, 58, terena, comerciante, frequentou a escola por três anos. No passado, desempenhou missão de cabeçante, aquele que “faz a ponte” na contratação de índios para cortarem cana-de-açúcar nas usinas. Possui casa espaçosa, caminhonete na garagem e soja plantada em 53 hectares numa área sua situada na aldeia Jaguapiru. Lá no fundo do território indígena, mora num barraco fincado em área de dez metros de largura por 15 metros de comprimento Brígida Rodrigues Cardoso, 40 anos, e seus cinco filhos. Ela, que estudou um ano só, é viúva e aguarda a indenização trabalhista do marido, que morreu um ano atrás. Sua condição de vida é de extrema pobreza.
Três quarteirões antes da moradia de Brígida mora Aguilera de Souza, 37, sábio entre seus patrícios, como chamam um índio ao outro. Ele completou faculdade, é pós-graduado, ganha a vida como professor, dá palestras na Universidade de Brasília e, de quebra, elegeu-se o primeiro vereador índio de Dourados. Vai ganhar salário de R$ 7.000 mensais e já estacionou um carro novo em frente da casa, simples, mas sólida, construída com tijolos. Mais adiante, uns 500 metros à esquerda da casa do novo parlamentar, mora Gonçalo Moura, 40 anos de idade, desempregado, pai de cinco filhos. Por falta de dinheiro, em duas ocasiões o kaiowá pensou em se matar, e, feito isso, deixaria uma quantia em dinheiro do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para a família. “Por um triz”, segundo ele, não acompanhou a ideia de 555 patrícios que se mataram de 2000 a 2011, segundo dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), entidade católica que briga pelos direitos dos índios.
(Bol)
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