25 junho 2012

Eleitora ‘madura’ e com pouco estudo será decisiva na eleição

Não é de hoje que as mulheres representam a maioria do eleitorado bauruense. Das 248.973 pessoas com direito a voto no município, em 2012, 53,2% são do sexo feminino. A partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é possível identificar que a maior parte dessas eleitoras está concentrada na faixa etária considerada ‘produtiva’, entre os 25 e 59 anos, e possui baixa escolaridade.


Como representam faixa considerável do eleitorado e podem ser decisivas ao resultado do processo eleitoral, o Jornal da Cidade consultou especialistas sobre os fatores que podem incidir nos critérios de escolha de candidatos e candidatas por parte dessa parcela da população. Eles destacam o baixo acesso à informação como um dos principais pontos que levam à subjetividade do voto.



Como eleitoras de baixa escolaridade, foram agrupadas aquelas que não concluíram sequer o ensino médio, incluindo as analfabetas, as que apenas leem e escrevem e as que cursaram o ensino fundamental, independentemente de terem ou não concluído esta etapa. Elas representam 62,7% das mulheres votantes.



O cientista político Celso Zonta ressalta que os dados de escolaridade do TSE apresentam divergências, pois os eleitores não costumam atualizar seus cadastros junto aos cartórios eleitorais. No entanto, o IBGE ainda não divulgou essas informações referentes ao Censo de 2010. De qualquer forma, o percentual desse contingente continua superando a metade do eleitorado.  



Coordenador do Plano Municipal de Educação em Bauru, Zonta lembra que as pesquisas apontam, cada vez mais, o aumento da escolaridade das mulheres em relação aos homens. No entanto, o machismo impregnado nos valores sociais e culturais ainda leva as menos instruídas a acompanhar o voto de seus maridos.



“Isso vem mudando conforme as mulheres têm ingressado no mercado de trabalho e conquistam sua independência financeira”, explica.



Criticidade e marketing



Independentemente do sexo, a baixa escolaridade favorece a escolha subjetiva de candidatos e candidatas por parte do eleitorado. “Poucos critérios são objetivos. Eles respondem muito mais ao que está no imaginário social. Isso faz com que o voto seja superficial e menos reflexivo”, aponta Celso Zonta.



Esses fatores, segundo o especialista, abrem margem para maior influência da campanha eleitoral. “Quem mais se mostra, tende a levar. Mas, para isso, as campanhas precisam identificar o que está mais forte no imaginário social. Na eleição passada, o discurso do novo pegou e o do bom administrador, não”, lembra ele.



Questões como essas são misturadas ainda, de acordo com Zonta, com alguns fatores objetivos e emocionais, como a empatia e até a beleza dos candidatos e candidatas.

Eleitora adulta quer obras visíveis


66,4% das eleitoras estão concentradas na faixa etária de 25 a 59 anos, considerada a idade adulta e em que se concentra a maior parte da fase produtiva das mulheres. Maximiliano Vicente pontua que essa parcela da população leva em conta a realização e propostas de obras concretas pelos políticos, de preferência, as palpáveis e visíveis, como o asfalto nas ruas e a construção de escolas e unidades de saúde.



“As questões estruturais pouco são consideradas. É uma fase em que as mulheres e as pessoas de forma geral buscam segurança e estabilidade nas coisas. Isso contribui também para a despolitização da eleição. As questões ideológicas são deixadas de lado. As coligações inusitadas refletem exatamente isso”, observa.



Um dos pontos estruturais que acaba sendo ignorado por maior parte do eleitorado, por exemplo, são questões que envolvem a administração pública. “Ninguém leva em conta a questão do enxugamento da máquina pública porque todo mundo sabe que isso não vai acontecer”, pontua.



O voto da mulher



Para o cientista político Celso Zonta, o machismo ainda é responsável pela baixa participação política da mulher. Prova disso foi a dificuldade dos partidos políticos em, pela primeira vez, terem que, obrigatoriamente, preencher a cota de 30% de candidatas do sexo feminino nas chapas proporcionais.



Além disso, descarta a idéia de que mulheres preferem votar em mulheres, o que indicaria cenário de favoritismo para as poucas candidatas a cargos eletivos. Apesar da Presidência da República e até da vice-prefeitura de Bauru serem ocupadas por mulheres, Dilma Rousseff (PT) e Estela Almagro (PT, o município conta com a apenas uma vereadora, Chiara Ranieri (DEM).



Zonta afirma que alguns estudos, porém, apontam para uma preferência das mulheres por candidatos e candidatas que abordam, de forma mais incisiva, temáticas sociais. “Quando elas percebem o conhecimento e a sensibilidade dos candidatos para as políticas públicas que combatam esses problemas, tendem a optar por eles. Mas tudo isso também é muito subjetivo”, pondera.



Já Maximiliano Vicente ressalta que, apesar de serem necessárias as propostas dos candidatos direcionadas ao público feminino, não é essa a principal demanda das mulheres. “Elas buscam programas que atendam ao bem coletivo”, explica.



Avanços



Apesar do cenário apresentado, tanto Zonta quanto Max são otimistas quando avaliam a evolução do quadro ao longo dos anos. “Basta lembrar dos motivos pelos quais foi eleito Fernando Collor [origem, beleza, juventude]. Acabou no impeachment, mas depois o País escolheu Fernando Henrique Cardoso por um plano econômico. Posteriormente, assumiram a presidência um ex-operário e uma mulher. É um processo claro de evolução”, observa o segundo.



Celso, por sua vez, atribui os avanços à facilidade do acesso à informação através do telefone, internet e televisão. No entanto, reconhece que muito ainda precisa ser feito. “Sou crítico ao processo eleitoral. É um período muito curto e os eleitores ficam submetidos à questão da propaganda”, avalia.



Escolaridade da mulher é maior



Os dados do TSE acompanham o que diz Celso Zonta acerca da maior escolaridade das mulheres em relação aos homens. Isso porque a diferença entre o eleitorado feminino e o masculino aumenta quando considerados apenas os votantes com maior escolaridade.



Entre os que concluíram o ensino médio, as mulheres representam 56% contra 44%. A relação entre os eleitores com ensino superior fica em 57,5% por 42,5%.

Dificuldades na avaliação


O professor de história política Maximiliano Martin Vicente avalia que, sem nível e qualidade educacional adequados, os eleitores não dispõem de capacidade para avaliar determinados conteúdos, que deveriam ser levados em consideração na escolha do voto. “Isso faz com que ele seja decidido por fatores não recomendáveis”, pontua.



Ele explica que as ações de políticos já com mandatos e as propostas programáticas dos demais candidatos ficam em segundo plano e dão lugar, por exemplo, ao “porque eu conheço” ou “porque alguém me falou”.
(JCnet)
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