Com raízes históricas profundas, com as primeiras referências
que datam do ano de 397 a.C, na Grécia Antiga, os trotes universitários
ganharam mais notoriedade com a criação das primeiras universidades na Europa,
ainda na Idade Média. No Brasil, eles chegaram por volta do século 19, quando
os filhos da elite que cruzavam o Oceano Atlântico, onde iam completar os
estudos nas universidades europeias, voltavam com a prática na bagagem. Os
trotes se popularizaram por aqui, onde encontraram terreno fértil. A primeira
vítima fatal foi um estudante da faculdade de Direito de Olinda (PE), em 1831,
mas de lá para cá, outras tantas morreram. De acordo com o sociólogo Antônio
Ribeiro de Almeida Junior, professor de Mídia e Ambiente na Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), e
autor de três livros sobre o tema, entre dois e três estudantes brasileiros
morrem por ano em decorrência de trotes violentos. Em um dos casos de maior
repercussão do histórico universitário nacional, o calouro Edison Tsung Chi
Hsueh, então com 22 anos, foi encontrado morto na piscina da Faculdade de
Medicina da USP. O caso aconteceu em 1999, mas passados 15 anos, a faculdade
voltou a ganhar espaço no noticiário, com as denúncias de abusos sexuais,
homofobia e racismo contra calouros em trotes e festas promovidos pelos
estudantes dentro do campus. Os casos de abuso sexual estão sendo investigados
pelo Ministério Público Estadual e pela Polícia Civil paulista. Para Almeida
Junior, a conivência da faculdade com relação ao trotes leva a violências
maiores como agressões físicas, estupros e até mortes. Ele diz que prática
trotista, apesar de antiga, não tem a ver com a tradição universitária. O
motivo da existência é a perpetuação da estrutura de poder entre os estudantes
e até direção da universidade. O professor diz que os grupos adeptos da prática
são minoria, mas organizados em uma estrutura de disciplina militar, na qual a
lei do silêncio ajuda a mascarar os abusos e abafar os verdadeiros culpados,
que têm o respaldo de professores, diretores e até mesmo reitores das
universidades para agir.
(Último Segundo)