10 agosto 2012

Desmontada quadrilha milionária de tráfico e lavagem de dinheiro

Carros de luxo, uma grande quantidade de imóveis e cifras que surpreenderam até os próprios investigadores. Foi esse o saldo de uma investida da Polícia Civil, por meio da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), que desmantelou uma quadrilha milionária de tráfico de drogas – principalmente cocaína - e lavagem de dinheiro em Bauru. Para se ter uma ideia, em apenas uma das anotações, indicava que tinham mais de R$ 2 milhões a receber.

A ação começou por volta das 6h da manhã de ontem. Com mandados de prisão em mãos, o objetivo dos policiais era capturar três homens. Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, 27 anos, que seria o “cabeça” da organização; Ivan de Oliveira Campos Bueno, 29 anos, o gerente e o “intelecto” da quadrilha; e Marcos Gabriel Canali Sanches, 24 anos, o “braçal” responsável pela entrega e cobrança das drogas.


Por um golpe de sorte (leia mais abaixo), o chefe da quadrilha conseguiu fugir de uma residência na Vila Universitária com seu carro, uma BMW X6. Os outros dois foram localizados e detidos. Ivan Bueno estava em uma casa na Vila Santa Clara e Marcos Sanches em um condomínio em Piratininga (13 quilômetros de Bauru).

Além das três residências, foram vistoriados mais setes imóveis: outras três casas e quatro estabelecimentos comerciais. Entre eles, um posto de combustível localizado na quadra 5 da Octávio Pinheiro Brisolla e outro na quadra 18 da Nuno de Assis, além de dois lava-car.

A operação contou com policiais da Dise, Delegacia de Investigações Gerais (DIG), Delegacia Seccional de Bauru, Garra e a delegacia de Pederneiras.

Nos dez locais que foram alvos de mandados de busca e apreensão, a polícia encontrou R$ 21.415,00 e nove veículos: Fusion, New Fiesta, Fiesta, Strada zero quilômetro, Palio, Saveiro, Courier, Uno Mile e Santana.

A frota estacionada na frente da Dise era realmente impressionante. “Ainda tem outros carros que devem ser apreendidos pela ligação com a quadrilha. A X6 que o Neto está, uma Land Rover que vale R$ 160 mil e Porsche Panamera de R$ 300 mil”, conta o titular da Dise, Ricardo Dias.

Patrimônio
Se a frota apreendida e os valores impressionaram, a quantidade de documentos localizados causou impacto ainda maior. De acordo com o delegado, além de computadores, havia grande quantidade de anotações de contabilidade do tráfico e indícios de lavagem de dinheiro.

Ricardo Dias explica que o desmonte da quadrilha é apenas o primeiro passo da investigação. Agora, o trabalho será sobre o volumoso material encontrado. Entre o patrimônio da quadrilha, há, ao menos, uma dezena de imóveis.

“Iremos verificar a ligação com o tráfico de drogas e também com a lavagem de dinheiro. Temos uma série de documentos que mostram essa evolução patrimonial. Entre a compra e venda de imóveis, temos que ver o que realmente ocorreu e o que foi fictício para lavar o dinheiro”, aponta o titular da Dise.

Ivan Bueno e Marcos Sanches, apontados, respectivamente, como segundo e terceiro na hierarquia da quadrilha milionária, foram ouvidos na delegacia especializada ontem. Eles, entretanto, afirmaram que só irão falar em Juízo. Ambos foram encaminhados ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Bauru. Já Sérgio Neto continua foragido da Justiça.

Caminho do crime apagava pistas
De acordo com a Polícia Civil, o caminho do crime era muito bem articulado. Do tráfico de entorpecentes ao grande patrimônio “conquistado” pela quadrilha, o trajeto ia desaparecendo com as pistas.

O titular da Dise, Ricardo Dias, explica que o dinheiro obtido com o tráfico de drogas, principalmente a cocaína, era lavado por meio da aquisição de imóveis e de veículos. Nos estabelecimentos, o processo de lavagem continuava.

O trajeto era tão bem feito que, ontem, nenhuma droga foi localizada. “Era tão difícil achar a droga que a investigação teve que se concentrar nos clientes mais assíduos”, relata o delegado. Entretanto, ele explica que várias apreensões realizadas recentemente tinham ligação com a quadrilha.

Para citar somente um delas, ocorrida em abril, a Força Tática da Polícia Militar (PM) apreendeu mais de seis quilos de cocaína no Jardim Pagani. Para Dias, a quadrilha fornecia uma grande dimensão de drogas em Bauru.

“Em mais de 20 anos de polícia, nunca vi cifras tão volumosas em contabilidade. Conseguimos agir sobre o que realmente os afeta: o braço financeiro. Pelo que encontramos, podemos ter a noção de que eram responsáveis por grande parte do tráfico de drogas na cidade”, comemora o titular da Dise, Ricardo Dias.


O ‘cabeça’

Em três anos, Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, 27 anos, saiu da prisão e construiu um patrimônio milionário. Visto pelas ruas de Bauru em uma Porsche Panamera, ele tentava comprar uma casa de R$ 900 mil em um condomínio de luxo da cidade. De acordo com as investigações, R$ 500 mil seriam pagos à vista e em dinheiro.

Descobrir como o homem que está foragido foi do “inferno ao céu” é o que a Polícia Civil pretende ao analisar os documentos apreendidos. Em 2006, durante os ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC), ele fora detido com duas metralhadoras e um fuzil. Condenado por formação de quadrilha, cumpriu pena até 2009, quando sua vida começou a dar essa guinada surpreendente.

Sem envolvimento?
Enquanto Ivan de Oliveira Campos Bueno, 29 anos, e Marcos Gabriel Canali Sanches, 24, prestavam depoimentos na Dise, familiares choravam nas salas de espera.

O advogado Márcio omes Lazarini, que irá defender Ivan, disse que o cliente nega o envolvimento com a quadrilha - e que o acusado só iria se pronunciar em Juízo. “Eu irei solicitar a liberdade provisória dele”, promete.

Já o advogado de Marcos se limitou a dizer que não saberia se iria continuar à frente do caso e que, por isso, não teria nada a declarar no momento.


Ponto de partida

As investigações da Dise começaram há quatro meses. O ponto de partida foi um jovem de 17 anos, morador da Vila Industrial, que estava movimentando quantidade anormal de drogas. Entretanto, o adolescente foi apreendido pela Polícia Federal.

O caso, porém, levantou um questionamento na Dise: quem era o fornecedor deste jovem? Dúvida que, após as investigações, levaram ao desmanche da quadrilha.

Briga com esposa salvou o chefe
Uma confusão com a esposa livrou Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, 27 anos, da prisão. De acordo com o titular da Dise, Ricardo Dias, era por volta das 3h da manhã, quando Neto teve uma grave briga com a esposa. Ela teria feito as malas dele e o colocado para fora de casa. Com sua BMW X6, ele foi embora da residência. Três horas depois, a polícia “bateu na porta” do local.
(JCnet)
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