As peças principais foram colocadas no tabuleiro e daqui a dois
meses saberemos quem foi mais habilidoso na montagem de sua estratégia. Na
etapa que terminou, há pouca dúvida de que o grande vencedor foi Lula. Ganhou
ao fazer com que o sentimento de esquerda, definido de forma ampla, tenha uma
representação unificada. As pesquisas mostram que a vasta maioria de seus
eleitores não hesitaria em apoiar esse representante, mesmo ainda no primeiro
turno, se percebesse que era preciso.
Quem
mais torcia pela candidatura de Ciro Gomes eram aqueles que desejavam que a
esquerda chegasse à eleição do mesmo modo que a direita: fragmentada, mais que
dividida. Ninguém questiona os méritos do pedetista, mas, em retrospecto, o que
se percebe é sua incapacidade de reconhecer a força do enraizamento popular da
liderança de Lula e a densidade social do PT. Achou que havia à disposição um
espólio sem herdeiro e que suas qualidades pessoais o habilitavam a
reivindicá-lo. Errou, apesar da simpatia com que foi visto por muitos
progressistas, apreensivos com o que poderia vir a ser o “PT sem Lula”.
O que verificamos é que Lula permanece vivíssimo, apesar da
prisão. Continua a ser avaliado como o melhor presidente de nossa história e
aquele em cujo governo a vida mais melhorou. É o politico mais querido e com
atributos mais admirados na atualidade, muito à frente de qualquer outro. A
maioria das pessoas gosta dele por motivos pragmáticos (“o bolso”) e emocionais
(“o coração”).
A
constatação de que alguém assim está preso, por motivos fúteis, ao cabo de um
processo que a grande maioria considera “político e não jurídico”, é de tal
forma estranha que as pessoas supõem que o descalabro será consertado “assim
que terminar a eleição”. Imaginam, com certa razão, que, se a única motivação
da prisão foi tirá-lo da urna, tão logo acabe, o despropósito se solucionará.
Nunca
foi tão pequeno o antipetismo, hoje na casa de 25% da opinião pública, depois
de haver alcançado 40%. É tentador dizer que, de tanto querer exterminar o PT,
a aliança conservadora acabou por fortalecê-lo. Com Lula, a esquerda tem tudo
para vencer a eleição no primeiro turno. Caso seja impedido, a candidatura de Fernando
Haddad e Manuela d’Ávila, em uma coligação do PT com o PCdoB e partidos
menores, sem a divisão que Ciro significaria, é favorita a terminar o primeiro
turno na frente.
Marcos Coimbra
(Sociólogo, é presidente do Instituto Vox Populi)
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